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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sobre Rafael Mascarenhas e outras perdas

...eu simplesmente não podia deixar de falar sobre ele!



Na semana passada houve uma enorme comoção no Rio de Janeiro: Rafael Mascarenhas, filho da querida Cissa Guimarães, foi-se desse mundo de forma prematura e violenta.

Mortes assim provocam em nós aquela sensação horrível de pensar que tamanha dor e sofrimento p
oderiam ter sido evitados, mas não foram.

Cissa não é uma grande amiga minha, mas estive várias vezes com ela e estive em sua casa, certa vez, por questões de trabalho. É uma pessoa adorável, assim como seus filhos João e Rafael, que também conheci por essa ocasião. Meninos de gentileza e educação impecáveis, exatamente como a mãe.

Talvez por conhecê-los, eu esteja pensando neles e em suas
dores diariamente e acabei por me lembrar de um texto que fiz por conta de uma grande tristeza relativamente recente em minha vida: a morte do meu querido amigo Alessandro Belmock, também por acidente, assim como minha mãe, ainda tão jovem, aos 40 anos de idade.

Sobre minhas perdas

Quando minha mãe morreu, também de acidente, eu costumava pensar nessas datas, as primeiras e, por isso mesmo, mais dolorosas, dessa forma:

Até fazer uma semana, eu me lembrava todos os dias que aquela tinha sido uma segunda feira que ela não havia conhecido.
E quando chegava a terça, eu me lembrava de novo que era uma terça que ela também não conheceu. E assim foi até a primeira semana passar.

Então vieram os meses e eu imaginava a mesma coisa. Como ela morreu em Março, eu lamentei o Abril que ela não conheceu e assim, sucessivamente, todos os meses do ano que se seguiram até completar a data de um ano de sua morte.

Junto com os meses eu lamentava as estações. O Primeiro inverno chegou sem que ela estivesse em casa comigo, e também a primeira primavera, verão...

Inevitável pensar no primeiros aniversários, dela, meu e da minha irmã, sem a sua presença.

Impossível descrever a dor do primeiro Natal.

Eu fazia isso não sei bem porque, assim como todo mundo faz e também nunca pensou sobre isso. Talvez não com o mesmo detalhamento que eu, mas todo mundo faz de alguma forma.

Parece uma maneira de se proteger contra uma dor eterna. É como se eu dissesse para mim mesma: depois de um ano essa dor horrenda vai melhorar. Não será mais uma dor diária, ou semanal, mensal...será anual, sei lá...De fato a dor vai ficando menos forte depois do primeiro ano e eu não sei explicar bem se é esse motivo maluco que eu inventei o responsável por isso.

Mas aí, quando você pensa que se livrou da dor, ou ela parece, ao menos, não provocar mais lágrimas, vem a sua primeira grande dificuldade sem que aquela pessoa possa estar ao seu lado...

E, quando você pensar que criou defesas, vem seu casamento, seu primeiro filho, sua casa nova, tudo, tudo novo, sem que aquela pessoa estivesse lá pra compartilhar contigo.

E todos os dias você pensa nela, mesmo nos mais agitados. você pode não ter tido tempo de escovar os dentes depois do almoço, mas, ao menos uma vez naquele dia, mesmo depois de tantos anos, você pensou nela, nem que fosse para contar uma bobagem a um amigo ou porque viu alguém na rua com um corte de cabelo parecido.

Támbem sempre aparece aquele dia em que você chora como se fosse o momento em que você soube de sua morte. Mesmo que não seja data nenhuma em especial, você chora de pura saudade, porque aquele buraco que tem no seu peito está até tampado, mas lá dentro continua oco.

Eu não sei quando passa. Para ser sincera eu já cheguei mesmo à conclusão de que não passa, pois quando a gente ama alguém não é necessário ter motivos para lembrar, nem datas, nem fotos, nem nada.

A pessoa fez parte da sua vida e vai continuar fazendo porque você sabe que o seu mundo simplesmente se modificou com a passagem dela.. E isso, seja bom ou não, ninguém pode tirar da sua cabeça ou do seu coração.

Faz quase 15 anos que a minha mãe morreu.
Amanhã fará 1 mês que o Alessandro morreu.
A única coisa que eu posso dizer é que, assim como acontece em relação a ela, também vai acontecer com ele, pois meu mundo se modificou com a sua passagem...

Isso é um pequeno tesouro que me faz sentir especial.
Sinto um pouco de pena das pessoas que não os conheceram...

Cissa, que Deus guarde seu coração em suas mãos!
Meu coração de mãe está batendo ao seu lado!

24 comentários:

  1. Adriana,

    Você descreveu muito bem o sentimento de perda e como vivemos ele diariamente. Amanhã faz dois anos que meu pai faleceu e ainda sinto a mesma dor e, bem como você, não tem um dia em que não me lembre dele.
    Beijos

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  2. Bom dia Adriana,
    Nem consigo imaginar como é o tamanho dessa sua dor. Mãe deveria ser eterna, mas nada é eterno. Como preencher um vazio tão grande? Talvez nada preenche! Deus sabe o que faz, mas a gente não consegue compreender os meios.
    Um abraço e espero de coração que hoje seu dia seja bom!

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  3. Adriana eu passei algo parecido, mas em contagem regressiva, ja que meu pai estava doente e sabiamos que iria falecer, então todas as datas pensavamos que poderia ser a ultima, cada abraço poderia ser o ultimo.. a morte é algo que nunca aprendemos a lidar.
    Mas quando soube da morte de Rafael, um pânico me tomou, pois nós como pais, sabemos como é inimaginável viver esse drama, meus filhos, cada um mora em uma cidade estudando. Liguei na hora para eles e desandei a chorar pedindo milhões de recomendações doidas... claro que eles conhecem o pai dramático que tem... mas de verdade, só quem tem sabe o quanto doi!

    Torço muito para que Cissa consiga se recuperar de dor tão imensa!

    Abraços minha querida

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  4. Querida, realmente é um luto constante.
    Somente quem passou por essa perda entende perfeitamente a dor, os choros, a sensação, o vácuo. Que Deus esteja com cada vida que ficou e sente a saudade. Estarei orando. O consolo e o conforto para o coração de maneira que ele fique mais leve nessas horas, é o que podemos pedir a Deus, para que a vida seja levada adiante...
    Contem comigo. Fique com Deus.

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  5. oi Adriana, linda forma como você conseguiu expressar essa dor infinita que é só nossa e cada um sabe como dói...

    bjim e bom dia

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  6. Pois é. As perdas são sempre doloridas. Só Deus para confortar e trazer paz ao coração.

    Obs: Gostei do seu blog, posso voltar né??

    bjs

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  7. Oi Adriana

    No seu texto você ilustrou a dôr de milhões de pessoas, todos passam por essa dôr durante a vida, quem ainda não passou com certeza irá passar algum dia.É uma dôr que não pedimos mas que não podemos evitar.No início a dôr é da perda e depois da ausência exatamente como você descreveu. Um texto escrito com a alma e com muita riqueza. Gostaria de pedir a sua permissão para enviá-lo à alguns amigos através de email. Sei que está disponível aqui mas quero a sua permissão antes de fazê-lo.

    Obrigada

    Lenita Feffe
    CantinhodaLe.blogspot.com
    lefeffe@gmail.com

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  8. Oi Adriana, perder mãe e amigo é terrível ( sei bem o que é) vc diz muito bem o que sentimos ..."o buraco no peito pode estar tampado, mas lá dentro continua oco"...é isso mesmo. Agora, perder filho como a Cissa,e como tantas mulheres que perdem seus filhos de uma forma violenta e cruel, deve ser com certeza pior ainda, sou mãe de dois lindos e nem quero imaginar uma coisa dessas. Que nossos corações batam junto com o da Cissa e de todas as outras mulheres que sofrem suas perdas. Bjs

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  9. Lindo seu texto, chorei :.(
    Essa dor realmente nunca deve passar.Perder alguém é muito triste e dolorido.

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  10. Nossa, chorei com o que você escreveu. Eu sei muito bem como é a dor da perda. Incurável !

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  11. Vera,
    eu sempre digo que a dor de perder um filho, só quem é mãe pode ter uma VAGA noção. Eu digo VAGA, pois a dor real eu nem consigo imaginar o tamanho dela...

    Uma vez li uma coisa muito triste e ao mesmo tempo uma verdade inquestionável:

    Quando a gente perde a mãe ou o pai, a gente fica órfão, quando perde o marido, fica Viúva, mas e quando a gente perde o filho? A gente fica o quê?
    ...É uma coisa tão terrível que nem nome tem!

    Nunca esqueci disso...

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  12. Lenita
    Pode levar o texto, querida.
    Beijos

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  13. Ai Adriana... em meio a essa tarde que nao sabe se chove ou se só enegrece, to eu aqui com lágrimas nos olhos ao ler suas palavras.
    Me senti no lugar da filha e temi por um dia vir a causar essa dor nos meus filhos.
    Ces´t la vie.
    Com todas as suas cores e doloridas ausências ...
    bjs

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  14. olá Adriana, sei que aqui é o lugar para comentários, mas como mãe, não me julgo capaz de comentar nem imaginar o desespero e dor que sentem os pais que perdem seus filhos. Só posso pedir para Deus abençoá-los e lhes dar alento. Um pouquinho que seja.

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  15. É um sentimento indescritível !!!!Desejo muita Paz!!!!!

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  16. Oi Adriana,
    Nós nunca estamos preparados para a perda. Tem 8 anos que minha mãe faleceu, foi muito difícil aceitar que ela tinha ido, e depois mais difícil foi aprender a conviver com esta perda. Mas temos um grande aliado que é o tempo, ele suaviza tudo. Ontem perdi minha avó, e mais uma vez tenho que aceitar, e conviver com a perda, mas meu amigo tempo está ao meu lado. Mais um dia se passou!!!
    Como mãe fiquei triste com a morte do Rafael Mascarenhas, rezo pra que a Cissa e todos os que perderam seus filhos e entes queridos tenham força pra seguir em frente.
    Bjks Claudia

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  17. Olá, Adriana. Há 15 anos atrás, quando vc também estava dilacerada pela dor, meu esposo perdeu pai e mãe num único acidente. 28 dias depois, perdeu o único irmão. Ou seja, em 1 mês, foi-se a família inteira. Ele é um sobrevivente. Mas a vida continua, e viver é preciso...Beijos no seu coração e no da Cissa também.

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  18. Emocionante seu texto... eu tenho muita dificuldade em lidar com a perda... mas é uma realidade, todos os dias perdemos um pouquinho, e quando chega o dia decisivo em que a perda é definitiva, a dor é imensa. Bjussss

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  19. Ola´! Querida, Dri! se eu ja estava gsotando dos post e do Blog que estou conhecendo nesse momento agoar estou encantada e emocionada! São momentos muito tristes de nossas vidas, mas temos que aprender a conviver, suas palavras são lindas, delicadas e emocionantes!
    Não podemos esquecer tb, que a morte é + uma pssagem de inumeras outras que faremos e embora a saudades seja inevitável, acredito que temos que vê-la com a certeza de que reencontraremos essas pessoas tão amadas e especiais!
    Virei sua fã de carteirinha! e estou te seguindo!!!
    bjinhussss
    Andreia (AmoJoias)

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  20. oi amiga- sabe - eu nem a conheci pessoalmente- mas quando soube da notícia, a primeira coisa ue pensei - pobre mãe! o que falar para ela ! esta naõ é a ordem natural da vida, o teu lindo texto que fala sobre o que sentimos na perda de alguem querido - agora fico imaginando , quando se é mãe - é um amor que não tem explicação, e perder este amor - chorei muito com as imagens que vi, perder um filho não é justo!
    bjs

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  21. Texto muito bonito! Me identifiquei...

    Um grande abraço Adriana

    Parabéns!

    Michel Belmock

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  22. Olá, querida.
    Não tenho blog e é a primeira vez que entro no seu espaço como leitora...fiquei muito emocionada com suas palavras, confesso que cheguei às lágrimas...nessas horas só peço a Deus que nos acolha com o seu mais terno amor, porque sabemos desse momento de dor, mas parece-me que não nascemos com a capacidade "sobrenatural" para entender a perda de alguém que amamos...beijos no seu coração!
    Rejane.

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  23. Nossa, estou escrevendo aqui com lágrimas nos olhos, ai que texto lindo! Já que não tenho nem palavras pra essa delicadeza em forma de palavras que vc escreveu, vou citar o que o Fernando Sabino disse pra Clarice Linspector certa vez: "De certo modo, vc me dispensa de escrever. Resta o consolo de pensar que se eu fosse capaz como vc de dizer o indizível, eu teria a dizer certas coisas que vc ainda vai dizer. E me limito a ficar esperando."

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  24. a pessoa q esqueveu isso se indertificou comigo
    amor de mae pra sempre em nossas vidas

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